Por que a gente complica tanto?

Quando meu filho era pequeno, as manhãs de terça, quinta e sábado tinham um compromisso certo: era o dia da coleta de lixo na minha rua e pontualmente, às 8h20, eu estava na sacada da minha casa para que meu bebê pudesse dar tchau para os garis.

Aquela troca de afeto era genuína, tanto por parte daqueles trabalhadores quanto por parte do meu filho e minha. Um vínculo foi se formando a ponto de eles já conhecerem a criança pelo nome e, quando vinham alguns minutinhos mais cedo, o motorista do caminhão buzinava e eu saía correndo com o meu menino no colo.

Em uma conversa despretensiosa no trabalho, uma amiga me contou que o irmão dela tinha o mesmo hábito quando criança e que o sonho dele era ser gari. Um outro amigo me falou que toda vez que lhe faziam a fatídica pergunta sobre o que ele queria ser quando crescesse, ele sempre dizia que seria motorista de ônibus. Não preciso nem dizer da insatisfação dos adultos quando essas crianças diziam isso, né?

Nós, ainda que por querermos o melhor para os nossos, vamos influenciando e levando essas crianças a irem, ao longo da vida, abandonando seus sonhos de pequenos.

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Aí, eu fico refletindo no porquê de fazermos isso e no porquê de profissões tão nobres e necessárias serem tão desvalorizadas e mal remuneradas. Algo que sempre me deixou em um misto de desconforto, indignação e curiosidade é o motivo do abismo salarial entre uns profissionais e outros.

Obviamente, alguns têm uma responsabilidade muito grande e um pequeno erro deles pode trazer grandes impactos, outros precisam de uma dedicação maior de tempo aos estudos e por aí vão outros tantos motivos. Até aí tudo bem. Mas será que isso justifica a distância absurda da remuneração das mãos de obra? Tenho minhas dúvidas.

Tenho uma outra reflexão para fazermos: o quanto nossos sonhos de criança são simples e o quanto que depois, com o passar do tempo e com todas as influências do mundo externo – que na maior parte das vezes é injusto – a gente vai complicando e tornando tudo mais difícil.

Precisamos nos acostumar a também honrarmos o simples.

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E para finalizar, quero registrar aqui toda a minha reverência a esses profissionais tão pouco reconhecidos, mas que são absolutamente fundamentais na nossa vida: garis, faxineiras e faxineiros, secretárias e secretários do lar, babás, porteiros e porteiras, vigias, vigilantes, motoristas de ônibus, maquinistas, operadores de máquina, atendentes, recepcionistas, telefonistas, operadoras e operadores de telemarketing, padeiras e padeiros, copeiras e copeiros, cozinheiras e cozinheiros, trabalhadores do campo, da base da construção civil e tantos outros.

Certamente que me esqueci de mencionar alguns profissionais que merecem as nossas homenagens. Me ajuda citando-os nos comentários? 

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